Vocação e ambição nas personagens machadianas: leituras de “Cantiga de Esponsais” e “Habilidoso”

Resumo

O presente texto analisa os contos “Cantiga de Esponsais” e “Habilidoso”, de Machado de Assis, a partir das tensões entre vocação, ambição e reconhecimento social. O estudo dialoga com Alfredo Bosi, ao considerar as máscaras como recursos de defesa do sujeito diante da sociedade, e com Otto Maria Carpeaux, que identifica dinheiro, sexo e vaidade como forças determinantes das personagens machadianas. Na leitura de “Cantiga de Esponsais”, observa-se em Romão Pires a impossibilidade de converter a inspiração em obra, o que conduz à frustração e ao aniquilamento de sua identidade criadora. Já em “Habilidoso”, a trajetória de João Maria evidencia a resignação diante de uma glória restrita, limitada ao espaço social imediato. Em ambos os casos, a teoria das duas almas — interior e exterior — formulada literariamente por Machado em “O Espelho” fornece chave interpretativa para compreender os destinos das personagens: a ausência de reconhecimento externo condena Romão à morte, enquanto a adaptação de João Maria permite a sobrevivência de sua ambição em escala reduzida. A análise revela, assim, como a construção machadiana articula frustração, vaidade e desejo de imortalidade em percursos individuais, iluminando o entrelaçamento entre subjetividade e identificação social.